“Persépolis” – Marjane Satrapi
Através desta novela gráfica autobiográfica, acompanhamos o crescimento de Marjane, uma criança sonhadora cuja infância foi profundamente marcada pelo radicalismo e pela guerra.
Quando era pequena, Marji queria ser profeta e transformar todo o mal do mundo em prosperidade e amor. À medida que o tempo passa, contudo, a protagonista desta história apercebe-se de que os seus sonhos são uma utopia e de que não há revoluções nem golpes de estado que ponham fim à avidez humana de riqueza e de poder.
Pouco depois de a deposição do Xá permitir aos iranianos sonhar com a liberdade, a revolução islâmica volta a mergulhar o país no tradicionalismo e na repressão, agravados pelo início da guerra com o Iraque. Desejosos de permitir à sua filha uma juventude longe da guerra, dos lenços na cabeça e do isolamento face à cultura ocidental, os pais de Marjane encaminham-na para uma escola francesa em Viena. Uma vez na Europa, e apesar dos conselhos da família que prometera não esquecer, Marji dá por si num torvelinho de escolhas, mudanças e emoções, que leva à diluição das suas convicções e à sensação de que o controlo da sua vida lhe escapava.
Como criança no Irão, estudante na Europa e mulher de volta à sua terra natal, Marjane leva-nos consigo numa longa e conturbada busca pela sua verdadeira identidade e pelos valores que acredita ser preciso defender.
“Nesse dia, aprendi uma coisa essencial: só conseguimos sentir pena de nós mesmos quando as nossas desgraças ainda são suportáveis. Quando se ultrapassa esse limite, a única maneira de suportar o insuportável é rirmo-nos dele.”
Marjane Satrapi construiu uma novela gráfica a preto e branco e conseguiu que fosse tanto ou mais expressiva do que uma história contada ao vivo e a cores. A expressividade de cada vinheta transmite, por si só, uma mensagem que, para além de a complementar, ultrapassa a mensagem transmitida pelas falas das personagens.
Através deste livro, o leitor tem a oportunidade de se informar acerca da história do Irão, de uma forma simples, didática e cativante. Optando por retratar a sociedade iraniana do ponto de vista de uma criança, Satrapi reduziu ao essencial a complexidade do passado de um povo e dos valores sobre os quais a sua cultura foi erigida.
Acompanhando as reviravoltas da vida de Marji, desde a sua infância até ao início da sua vida adulta, constatamos que, quer no Ocidente, quer no Oriente, a vida é fundamentalmente imprevisível, e que os erros são parte fundamental do crescimento.
Assim, Persépolis é uma obra singular que retrata as consequências da guerra e da repressão no quotidiano do povo iraniano no passado recente e a importância dos valores individuais para a defesa de uma sociedade mais livre e mais justa.