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H-orizontes

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26
Ago21

“Inferno” – Dan Brown

Helena

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Robert Langdon, o conceituado professor de simbologia da universidade de Harvard, acorda num hospital, sem fazer ideia de como foi ali parar. Por entre a sua confusão, Langdon reconhece, através da janela do quarto, a torre com ameias do Pallazzo Vecchio e o inconfundível Duomo da catedral de Santa Maria del Fiore. Com a ajuda das explicações da doutora Sienna Brooks, o professor fica a saber que se encontra em Florença e que chegou ao hospital nessa madrugada, com um ferimento de bala na cabeça e a roupa ensanguentada. Antes que pudesse perceber por que motivo teria sido alvo de um tiro, um membro armado de uma organização secreta entra no corredor em frente ao quarto e começa a disparar sobre eles. Sienna tem apenas tempo de recolher o casaco de Langdon antes de o ajudar a fugir para o seu apartamento, onde as revelações sobre o motivo da visita do professor a Florença começam a surgir: num bolso oculto do seu casaco está um cilindro que contém um pequeno projetor. Uma vez ligado, este projeta uma imagem bem conhecida, mas alterada: o Inferno, de Botticelli, com os níveis do malebolge desordenados e letras espalhadas pelas personagens da gravura: CATROVACER. Para rematar, o autor da nova imagem deixara uma mensagem no fundo do quadro: “A verdade só pode ser vislumbrada através dos olhos da morte”.

Entretanto, a bordo do navio Mendacium, trabalham os membros do Consórcio, uma organização secreta que satisfaz os desejos dos seus clientes sem pedir explicações acerca das suas intenções. Um dos responsáveis, o facilitador Knowlton, estava encarregado da transmissão de um vídeo nos meios de comunicação, no dia seguinte. O protocolo básico do Consórcio é muito simples: cumprir o acordo, sem fazer perguntas. No entanto, o conteúdo da gravação é tão perturbador que o faz questionar o cumprimento da missão: numa gruta iluminada por luzes vermelhas, um homem escondido por trás de uma máscara da peste medieval discorria acerca do aumento insustentável da população, da urgência e virtude da sua criação e da única maneira de a Humanidade se purgar dos seus pecados: o Inferno. “Neste lugar, nesta data, o mundo foi mudado para sempre.”

Numa corrida contra o tempo, Langdon e Sienna tentam descodificar o enigma que têm em mãos e descobrir o que se passa de tão grave que envolva as forças de segurança italianas, agentes secretos e a própria Organização Mundial de Saúde. No final de contas, isto é mais do que uma caça ao tesouro através da vida e obra de Dante Alighieri: alguém criou uma peste que se espalhará pelo globo a qualquer momento.

“Os lugares mais tenebrosos do Inferno estão reservados àqueles que mantêm a neutralidade em tempos de crise moral”

O USA Today qualificou o Inferno como sendo “O mais próximo que um livro pode ser de um filme de verão estrondoso”, e eu não poderia estar mais de acordo. Dan Brown volta a proporcionar-nos uma aventura única que conjuga personagens imprevisíveis, ameaças arrepiantes, reviravoltas emocionantes e viagens gratuitas através das suas descrições fiéis dos cenários onde a ação se desenrola (neste caso, pontos emblemáticos e recantos escondidos de Florença, Veneza e Istambul). Este livro é o exemplo perfeito de “viajar sem sair do lugar”, seja a nível geográfico, cronológico ou cultural. Assim, sentados no sofá, na praia ou no jardim, somos levados a ruas distantes, à dantesca Idade Média, ao Renascimento de Botticelli, ao futuro incerto de um planeta sobrepopulado e às entrelinhas de uma das obras mais célebres da cultura ocidental: A Divina Comédia.

Como seria de esperar, vindo de Dan Brown, esta história conta com um vilão convincente, defensor de uma tese que faz sentido. Apresentando dados matemáticos e argumentando com a lógica da biologia, o “mau da fita” consegue fazer-nos tremer perante as evidências da dimensão avassaladora da população mundial e das consequências que, num futuro não muito longínquo, derivarão da reprodução incessante de seres humanos. Confesso que me senti inclinada a apoiar as intenções maquiavélicas do criador da praga, face à forma como ele interpretou o presente e o futuro da Humanidade e sublinhou a urgência da tomada de medidas drásticas para evitar uma catástrofe iminente.

Esta leitura foi particularmente cativante devido à situação pandémica que atualmente enfrentamos. A ação do livro gira à volta da ameaça de uma epidemia global e da necessidade de a conter, algo que, quando o livro foi lançado, nos pareceria impossível que saltasse destas páginas para o mundo real. Deste modo, sentimo-nos mais próximos das personagens e percecionamos os acontecimentos de outra maneira. Os termos “cerca sanitária” e “unidades de PCR” e o aparato dos fatos de proteção contra substâncias perigosas já não são uma realidade desconhecida para nós, e esta proximidade com a ação permite-nos vivê-la mais intensamente.

Em conclusão, apesar de não ter conseguido alcançar o patamar d’O Código Da Vinci, Inferno conquistou um sólido segundo lugar nas minhas leituras de Dan Brown, pela maneira como articula uma ação cativante e recheada de plot twists com os resultados de uma pesquisa profunda que fazem desta leitura, para além de um divertimento, um agradável processo de aprendizagem.

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