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H-orizontes

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30
Jul20

"A Odisseia de Penélope" - Margaret Atwood

Helena

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Vinte e nove séculos depois da célebre Odisseia de Homero, com o relato das incríveis façanhas de Odisseu, chega-nos dos Campos de Asfódelo o testemunho de Penélope, a fiel e paciente esposa do guerreiro ítaco. Penélope, num relato na primeira pessoa, põe em evidência o caráter matreiro de Ulisses, a vaidade da sua prima Helena, a cobiça e a hipocrisia dos pretendentes e, principalmente, o seu papel como responsável pelo governo da casa na ausência do marido.

Paralelamente às preocupações e estratagemas de Penélope, numa homenagem às sátiras gregas, um coro de criadas comenta a ação principal, satirizando-a ou acrescentando-lhe a perspetiva dos mais desfavorecidos da história. Mostram, também, a sua revolta pelo enforcamento de doze criadas, a mando de Odisseu, após o seu regresso, algo a que os leitores não dão crédito e que não é, de longe, tão cantado como as aventuras do herói grego.

Deste modo, Atwood sintetiza, com um toque de modernidade, a faceta mais realista dos relatos mitológicos que rodeiam a viagem de Odisseu e revela a perspetiva de Penélope enquanto mulher cuja resistência e perspicácia são desvalorizadas nos relatos homéricos.

Este livro parte do facto de a vida que Penélope e as suas criadas levavam durante a ausência de Odisseu não ser narrada de uma forma relevante na Odisseia. Na minha opinião, constitui uma ilustração do porquê de assim ter sido. De facto, não há muito a relatar em relação às peripécias vividas por Penélope: debatia-se com a presença dos pretendentes, que consumiam os seus bens e queriam assumir o lugar de Odisseu o mais depressa possível, ansiava por notícias de Odisseu e engendrava esquemas com o objetivo de tramar os pretendentes e adiar o dia da escolha do seu futuro marido. Assim, é natural que a narração épica se foque no guerreiro que partiu para a guerra de Troia e enfrentou inúmeros perigos na jornada de regresso a Ítaca.

Para além disso, Odisseu é retratado em A Odisseia de Penélope como traiçoeiro e um mentiroso nato, e é despojado de todas as façanhas relacionadas com a esfera mitológicas que marcam a Odisseia. Por exemplo, à luta de Odisseu com um ciclope de um só olho é apresentada a alternativa de uma luta com um taberneiro de um só olho por causa de uma conta por pagar.

O registo é informal e faz lembrar um diário, o que me agradou pelo facto de constituir uma leitura fácil, mas que contribuiu para a minha fraca impressão do livro, uma vez que não se trata de um relato cativante ou “As potent as a curse”, como a crítica do Sunday Times anuncia na capa desta edição (The Canons, 2018).

As referências da Penélope à atualidade pareceram-me desnecessárias e destoantes em relação ao conteúdo da obra.

Por outro lado, A Odisseia de Penélope permite ao leitor tomar conhecimento de algumas tradições da Grécia Antiga e contactar com uma versão light da Odisseia através de uma nova perspetiva. Atwood investigou, inclusive, os antepassados dos protagonistas da história, pelo que os leitores serão capazes de construir uma pequena árvore genealógica das personagens.

Assim, considero que este não é um livro especialmente marcante e que não atinge por completo o objetivo de apresentar Penélope como uma mulher forte. No entanto, enquanto desafio de abordagem da Odisseia através de outra perspetiva, não está de todo mal conseguido.

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