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H-orizontes

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13
Abr23

“Greenlights” – Matthew McConaughey

Helena

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Para escrever Greenlights, Matthew McConaughey releu e analisou criticamente os registos diarísticos que remontam à sua adolescência e o acompanharam durante toda a vida, a fim de selecionar informação que pudesse ser coesa no seu todo e relevante para o público em geral. Assim, McConaughey encadeia uma série de narrativas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para o tornar naquilo que é hoje – experiências mais ou menos boas (redlights e yellowlights) que, a longo prazo, trouxeram consequências positivas (greenlights).  

Este livro não correspondeu às minhas expectativas. Apesar de constituir um bom repositório das experiências de vida de uma das maiores figuras de Hollywood dos nossos dias, o seu ritmo é quebrado pelos fragmentos de escritos mais ou menos poéticos e filosóficos que McConaughey recolheu nos seus cadernos. O intuito de acrescentar profundidade à narrativa acaba por falhar, quase caindo no ridículo.

À parte isso, foi uma experiência positiva na medida em que me permitiu saber mais acerca de um dos meus atores favoritos, quer a nível da sua vida pessoal como da sua evolução na carreira da cinematografia. É certo que a mensagem que este memoir tenta transmitir é positiva (a noção de que é necessário trabalhar persistentemente e enfrentar desafios inesperados para conseguirmos alcançar um patamar melhor e mais alto, mais próximo dos nossos sonhos), mas é de notar que nem tudo se faz sem um pouco de sorte. A história de McConaughey não seria a mesma sem uma determinada sequência de oportunidades, assim como certos eventos e acasos constituem o fio condutor da vida de cada um de nós.

 

02
Mar23

“Born a Crime – Stories from a South African Childhood” – Trevor Noah

Helena

born-a-crime.jpg

África do Sul, anos 80 do século XX. A libertação de Nelson Mandela e o fim do Apartheid alteram o status quo da sociedade sul-africana, derrubando os ideais de supremacia branca consolidados em décadas de estruturas governativas colonialistas. É durante este atribulado período de transição que se desenrola a infância de Trevor Noah, atual comediante e apresentador de televisão, filho de uma mulher sul-africana e de um homem germano-suíço – o resultado de uma união punida pelas leis segregacionistas do pré-Apartheid.

Através de 18 capítulos, que correspondem a 18 histórias da infância de Trevor, ficamos um bocadinho mais perto de entender a experiência de uma criança que, sem poder incluir-se no grupo dos meninos negros nem no dos meninos brancos, foi trilhando o seu caminho, simultaneamente único, mas de alguma forma comum às crianças mulatas sul-africanas nos anos 80.

“Before that day, I had never seen people being together and yet not together, occupying the same space yet choosing not to associate with each other in any way.”

Este livro surpreendeu-me imenso pela positiva, por ser tão bem conseguido em todos os aspetos: por sensibilizar os leitores para as condições de vida sob o regime de repressão do Apartheid, por reproduzir tão vivamente a história de uma infância fascinante e por retratar um povo cujos costumes e cicatrizes ainda hoje são passados herdados de geração em geração.

Ao mesmo tempo que se trata de um livro coeso e bem construído, Trevor varia o seu registo narrativo e despreza a cronologia no que toca ao relato dos acontecimentos. Assim sendo, Born a Crime conjuga discursos sóbrios e solenes e registos informais e divertidos que faz com que os leitores sintam que estão a assistir a um dos seus espetáculos de stand-up comedy. Quanto à organização temporal, mesmo que os relatos não correspondam à ordem cronológica dos acontecimentos (afinal, esta não é uma biografia, mas sim um memoir), isso em nada impede que, no final, o leitor consiga visualizar o quadro da infância de Trevor com todas as suas nuances e pormenores.

A dedicatória de Born a Crime é dirigida a Patricia Noah, a mãe de Trevor, uma personagem omnipresente na sua narrativa de Trevor e que influenciou em grande medida, direta e indiretamente, o adulto em que ele se veio a tornar. Sem recorrer a longos agradecimentos ou a discursos laudatórios, Trevor faz desta obra um monumento à força de vontade da sua mãe, uma mulher inspiradora na sua resiliência. Para além disso, ao ter sido vítima de violência doméstica, cuja desvalorização por parte das autoridades conduziu a consequências extremas, a sua história é particularmente relevante para sublinhar a importância do reconhecimento e da condenação de comportamentos abusivos no seu estado mais precoce.

Assim, recomendo vivamente a todos que deem uma oportunidade a este livro, uma história brutal e hilariantemente real que vos fará rir à gargalhada, franzir o sobrolho e ferver de revolta, no espaço de um par de capítulos.

“language, even more than color, defines who you are to people.”

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