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H-orizontes

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11
Out23

“Lucy” – Jamaica Kincaid

Helena

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Lucy é a personagem principal do livro homónimo da autoria de Jamaica Kincaid.

Tendo atingido a maioridade, Lucy abandona a casa dos pais, nas Caraíbas, e parte para os Estados Unidos da América. Aí, passará a viver com a família de Lewis e Mariah, de cujos filhos tem o dever de cuidar.

Neste período de transição repleto de mudanças e descobertas, Lucy vê-se a braços com uma vida numa sociedade completamente diferente e em contacto permanente com uma família cuja aparência harmoniosa esconde problemas. Nesta tentativa de compreender quem é ela própria e quem são, na verdade, os outros, Lucy vai ocupando o seu lugar no mundo e no coração de quem lê este romance.

“An ocean stood between me and the place I came from, but would it have made a difference if it had been a teacup of water? I could not go back.”

Este livro tocou-me muito mais profundamente do que eu esperava. O facto de Lucy, a personagem principal, ter a mesma idade que eu, fez com que muitos dos aspetos tratados neste livro se coadunassem com a minha própria experiência. Apesar de estar do outro lado do Atlântico e de me encontrar numa situação infinitamente mais privilegiada, pude partilhar da não só sensação de estranheza que sair de casa envolve, como também das sensações intensas e contraditórias que crescer acarreta.

O registo pouco floreado da escrita de Kincaid podia contribuir para um relato menos cativante deste processo de emancipação, mas acabou por ter o efeito contrário. Ao manter um estilo simples, a narrativa de Lucy tornou-se simultaneamente mais acessível e mais tocante, mais próxima de quem lê e dos sentimentos que tenta exprimir.

Os livros de que mais gosto são aqueles cuja crítica mais me custa articular, já que nada do que eu possa dizer pode igualar a sensação de conforto que me preenchia ao pegar neste livro para mais uns minutos de leitura. É uma pena que não esteja traduzido e editado em Portugal. Ainda assim, recomendo a sua leitura, especialmente aos jovens adultos que ainda estão a tentar descobrir o lugar onde pertencem.

17
Out21

"Montanhas Douradas" - C Pam Zhang

Helena

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A corrida ao ouro domina o Oeste dos Estados Unidos da América quando Lucy e Sam, irmãs separadas por um ano e duas maneiras de ser totalmente distintas, se veem sozinhas após a morte do seu pai. Ba, como lhe chamavam, era um prospetor cuja vida se resumia a transportar a sua família de origens orientais através do território americano à procura de filões de ouro que, invariavelmente, já tinham sido esgotados por outros. Em consequência, a família via-se obrigada a sobreviver no seio das dificuldades e da escassez de recursos, trabalhando nas minas de carvão e alimentando-se parcamente.

Lucy era a mais inteligente das irmãs e, por isso, foi a que frequentou a escola durante mais tempo. Era a mais velha e também a que conseguia fazer uma análise mais racional das situações com que se deparava. Já Sam, bela, forte e andrógina, era fruto da influência do pai e deixava-se dominar pela impulsividade e irreverência.

Após a morte de Ba, Lucy e Sam têm nas mãos o seu próprio futuro, e embarcam numa longa viagem que as levará através do espaço e do tempo, nas tórridas planícies americanas onde já não se avistam tigres.

“O que faz um fantasma ser um fantasma? Pode uma pessoa ser assombrada por si própria?”

Montanhas Douradas foi um dos livros do ano de 2020 escolhidos por Barack Obama. Ao que parece, o nosso gosto literário não é muito similar.

O primeiro aspeto que me marcou no romance de estreia de C Pam Zhang foi a crueza do seu estilo. Numa escrita austera e pouco adornada, a autora aproxima-se da aridez da paisagem que descreve e do modo de vida parco em recursos das personagens principais.

Apesar de o início não me ter cativado, o avançar da ação vai envolvendo o leitor na narrativa, através de analepses que vão revelando o passado das personagens e, em consequência disso, vão revelando o seu caráter. Assim, a personagem odiada ganha uma oportunidade de redenção, a figura admirável revela os seus matizes mais escuros e o presente narrativo é iluminado por uma nova luz.

Penso que o principal motivo que me levou a não gostar tanto deste livro como esperava foi o facto de retratar uma realidade com que nunca tinha contactado e com que, por isso, não conseguia identificar-me de forma nenhuma. No entanto, a mesma razão permitiu-me sair da minha zona de conforto e ser, por algumas horas, transportada para o coração da América em plena era da corrida ao ouro.

Montanhas Douradas é um livro sobre a família, a emigração e a xenofobia. Um livro sobre o sentido de pertença, o sentido do dever e o sentido da vida. É um livro sobre escolhas e sacrifícios. Uma viagem longa, mas compensadora.

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