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H-orizontes

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10
Jan23

“The Woman Destroyed” – Simone de Beauvoir

Helena

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The Woman Destroyed é um conjunto de três textos da autoria de Simone de Beauvoir, atravessados pela mesma sensação de desespero de mulheres que se encontram, de uma forma ou de outra, numa fase difícil da sua vida. No primeiro texto, The Age of Discretion, Beauvoir apresenta-nos o dilema de uma mulher enquanto mãe que se depara com a revelação dos ideais de vida do seu filho, contrários àqueles que ela tentara transmitir-lhe. O segundo texto, Monologue, é o fluxo de consciência de uma mulher sozinha no seu apartamento na noite de Ano Novo, à deriva na sua frustração resultante da perda de uma filha e de um processo de divórcio turbulento. O último texto, que dá nome ao livro, leva-nos a acompanhar a jornada de Monique, uma mulher de 44 anos que vê o seu casamento escapar-se-lhe por entre os dedos depois de descobrir que o marido tinha vindo a envolver-se com outra mulher.

Assim, três breves histórias transportam-nos para o universo feminino da década de 60, retratando dilemas e preocupações que poderiam pertencer a mulheres dos nossos dias.

“One always has to wait until the sugar melts, the memory dies, the wound scars over, the sun sets, the unhappiness lifts and fades away.”

Simone de Beauvoir, um ícone do movimento feminista dos anos 60 do século XX, apesar de toda a polémica que a ela está associada, representa em The Woman Destroyed três mulheres que foram, de uma forma ou de outra, destruídas pelas reviravoltas da vida.

Esta leitura foi particularmente cativante pela forma única como a autora retrata as vivências de mulheres frustradas, desesperadas, encurraladas por circunstâncias que não desejavam nem poderiam prever. O primeiro texto apresenta-nos uma faceta pouco explorada da maternidade, com o conflito interno de uma mulher desencadeado pela manifestação por parte do seu filho de objetivos e ambições que chocam a sua progenitora e desestabilizam por completo a harmonia familiar. O segundo texto, aquele de que gostei menos, por ser algo caótico e confuso, coloca sob os holofotes uma mulher duplamente afetada pela perda, num retrato exasperante da solidão e da revolta. The Woman Destroyed, o meu texto preferido, apesar de se ter revelado algo repetitivo, é bem-sucedido na forma como transmite o desespero palpável de uma mulher que se afunda num redemoinho mental e emocional. Ao mesmo tempo, provoca reflexões acerca da amizade, da maternidade e da verdadeira medida em que conhecemos aqueles que nos são mais próximos.

The Woman Destroyed é um livro que recomendaria a alguém que manifestasse interesse em conhecer a obra de Beauvoir e preferisse narrativas ficcionais à não-ficção.

“What a relief! It is so tiring to hate someone you love.”

29
Nov21

“Quem disser o contrário é porque tem razão” – Mário de Carvalho

Helena

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Neste ensaio galardoado com o prémio P.E.N. Clube 2015, Mário de Carvalho, figura de destaque na atual paisagem literária portuguesa, decompõe a criação literária nos seus vários componentes e guia o leitor através das “camadas” que compõem um texto literário. Desde a importância da perspetiva da narração à necessidade de estabelecer a ambiguidade perturbadora indissociável da boa literatura, são abordados os pontos-chave e os conceitos fundamentais para uma compreensão mais aprofundada do fenómeno de criação de uma narrativa de ficção.

Este livro demarca-se da maior parte dos guias para aspirantes a escritores por se recusar a dar instruções como as daqueles que encaram a escrita como um processo linear. O próprio título reflete a posição do autor relativamente ao conteúdo deste ensaio: pode ser que quem diga o contrário também tenha razão, já que o exercício pode ser levado a cabo das mais diversas formas.

“Pensar que se fica apto a escrever depois de ler um compêndio de escrita criativa é o mesmo que julgar que se passa a dominar uma língua após ter comprado um dicionário.”

Este livro foi-me recomendado pela minha professora de Introdução aos Estudos Literários, pela sua relação com os conteúdos lecionados na cadeira. Assim, a minha leitura não foi feita na perspetiva de quem pretende escrever um livro, mas na de alguém que pretendia compreender alguns conceitos e princípios que alicerçam o mundo da literatura. Chegada ao fim deste ensaio, posso afirmar que este cumpriu o seu objetivo: reconheci nestas páginas conceitos com que já tinha contactado em contexto de aula, e fiquei a conhecer outros que certamente me serão muito úteis ao longo do semestre.

Apesar de se tratar de um ensaio muito acessível ao público em geral, dada a simplicidade das explicações do autor acerca de conceitos técnicos, considero-o ligeiramente elitista. Isto porque Mário de Carvalho recorre à enumeração de inúmeros exemplos de obras literárias para ilustrar as suas explicações, partindo do princípio de que o leitor é já um grande conhecedor dos grandes clássicos. Em todo o caso, estes exemplos abrem caminhos para novas leituras.

Em conclusão, Quem disser o contrário é porque tem razão é um ensaio esclarecedor e enriquecedor, adequado tanto para aqueles que almejam conceber uma obra de ficção como para aqueles que procuram entender os meandros do mundo da literatura.

“A boa literatura liberta.”

“Dificilmente conseguirá ser inovador e original aquele que não considerar os outros.”

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