“The Catcher in the Rye” – J. F. Salinger
Holden Caulfield é um adolescente irreverente que acaba de ser expulso de mais um colégio interno. Consciente de que, se regressasse a casa, teria de lidar com a reprovação dos seus pais, Holden decide deixar o colégio e vaguear pelas ruas de Nova Iorque até ao último dia do período letivo.
Durante esse tempo, Holden entretém-se marcando encontros com antigos amigos, passeando pelo Central Park ou bebendo nos bares da cidade, revoltando-se contra tudo aquilo que considerava “phony” – ou seja, contra os comportamentos incompreensíveis das pessoas adultas de uma sociedade de preceitos e hipocrisias.
Viajando através do fluxo de consciência de Holden, acompanhamo-lo à medida que ele avança por este hiato da vida em que ainda não se é um adulto, mas também já não se é uma criança. No meio das circunstâncias difíceis que obrigam Holden a agir com maturidade, encontra-se a resistência clara de uma mente adolescente que se recusa a crescer.
“Goddam money. It always ends up making you blue as hell.”
The Catcher in the Rye é um livro controverso, que já foi banido de vários países pela sua linguagem inapropriada e pelo relato de cenas sexuais ou violentas. Junto do público, ora despoleta amor, ora ódio. Eu tendo a incluir-me no primeiro grupo de leitores.
Holden não é um rapaz como os outros, mas também não quer sê-lo. Todo este livro é um grito de revolta de um rapaz inconformado com as regras da sociedade, que dá consigo às portas de uma vida adulta para onde não quer entrar. Assim, a narração pode ser considerada bastante monótona: Holden encarna o adolescente resmungão que se aborrece com tudo aquilo que o rodeia, que não gosta de nada nem de ninguém, à exceção da sua irmã mais nova. No entanto, é na reiteração da sua posição em relação à vida que se revela a profundidade do medo que Holden tem daquilo que o espera quando não puder fugir mais do jugo das regras sociais.
É também desse medo que deriva a afeição de Holden pela irmã, uma criança muito inteligente que o compreende e o recorda de que nem tudo no mundo é horrível: ainda existem crianças, seres puros, sem segundas intenções e sem preocupações em relação a si mesmas e aos outros. Por essa razão, quando a irmã lhe pergunta o que gostaria de fazer quando crescesse, ele responde que gostaria de ser o “catcher in the rye” – um vigilante num campo de centeio que evitaria que as crianças que lá brincavam se aleijassem ou se perdessem. No fundo, Holden só quer poder escapar à prisão do mundo dos crescidos.
Deduzo que o prazer que tive ao ler este livro se deva em grande parte à fase da vida em que me encontro, uma fase de mudança, de amadurecimento e de receios quanto ao que está para vir. No entanto, penso que mesmo os leitores que já passaram pela adolescência podem encontrar conforto no inconformismo de Holden.
Em conclusão, The Catcher in the Rye foi um livro que me surpreendeu, uma vez que não esperava que o cânone dos clássicos pudesse incluir um romance tão informal. No final de contas, aquilo que se retira da experiência de Holden é a consciência da criança que vive em cada um de nós e que, por mais que tentemos domar, não se curva às regras e expectativas que a sociedade teima em impor-nos. Somos todos um bocadinho “Holden”. Porque é que temos de crescer?