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H-orizontes

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31
Dez21

“O último cabalista de Lisboa” – Richard Zimler

Helena

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Berequias Zarco, um judeu português residente em Constantinopla, é surpreendido pela visita de um antigo vizinho que lhe traz a chave da sua casa em Lisboa. Deparando-se assim com um regresso vívido dos seus últimos anos na capital portuguesa, Berequias decide registar para a posteridade os eventos da sua vida que até ali guardara na sua memória.

Recuamos, assim, até ao ano de 1506, ano em que os cristãos-novos de Lisboa foram vítimas de um imenso massacre despoletado pelas incitações de clérigos que culpavam os judeus da terrível seca. Milhares de judeus e cristãos-novos morreram no pogrom da Páscoa fatídica desse ano, que serve de pano de fundo ao enredo de “O último cabalista de Lisboa”. É no dia do massacre que Berequias regressa a casa e encontra o seu tio e mestre espiritual morto na cave em que realizava os seus rituais cabalísticos e judaicos. Junto dele está o cadáver de uma rapariga. Ambos apresentam um longo corte no pescoço, que só poderia ter sido executado por alguém que dominasse as artes do shohet.

Por entre as ruas de Lisboa, a intolerância religiosa da sociedade e o fraquejar da sua fé, Berequias deixa-se guiar pela sua sede de vingança e enceta todos os seus esforços na procura do assassino do seu tio. Tudo indica que se tratará de um membro do seu círculo de iniciados, que roubara a Haggada em que o mestre cabalista o usara para representar a personagem do traidor…

Para a última leitura do ano, escolhi um livro que sabia que me serviria de máquina do tempo. Com efeito, recuei cinco séculos e fui transportada para as ruas de Lisboa num dos períodos mais deploráveis da história da capital. Por mais que nos ensinem nas aulas de História que os judeus foram perseguidos incansavelmente durante décadas, nunca estamos preparados para as descrições das atrocidades que foram cometidas nestes anos de intolerância cega. Os capítulos referentes ao pogrom foram os mais intensos e chocantes e, por isso mesmo, os meus preferidos.

O enredo, para além de original, é um autêntico novelo de personagens, histórias, percalços e suspeitas, que se enrodilham num turbilhão de mistério até ao desenlace final. Acompanhar o ritmo dos acontecimentos e o surgimento de novas personagens foi o maior desafio desta leitura, porque, ao contrário do narrador, não possuo uma “memória de Tora” capaz de articular a grande quantidade de intervenientes na resolução deste mistério, o seu passado e as suas ações. Felizmente, no final do romance, o narrador faz uma recapitulação dos destinos de cada uma das personagens, pelo que pude recordar o seu papel na ação e compreender o desenlace como a um puzzle em que se encaixaram as últimas peças.

Encerramos, assim, as leituras de 2021 com uma experiência positiva, surpreendente e desafiante que, sem sombra de dúvida, merece um regresso mais vagaroso e atento.

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