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H-orizontes

H-orizontes

20
Jul24

“And Then There Were None” – Agatha Christie

Helena

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Oito pessoas que não se conhecem reúnem-se numa ilha isolada na costa de Devon, a propósito em virtude de de um convite por parte de um casal com que nenhum deles é especialmente familiar – os Owens. Quando chegam à mansão minimalista do casal, esperam-nos apenas dois criados, que lhes garantem pouco ou nada saber sobre os donos da propriedade, apenas que estes se juntariam a eles mais tarde. No entanto, nessa noite, um dos convidados morre asfixiado, ainda antes da chegada de qualquer anfitrião. A voz de uma gravação acusa cada um dos convidados de um crime pelo qual nunca foram julgados e que a maior parte deles se esforça por restringir à sua consciência. O círculo de dez figurinhas sobre a mesa de jantar vê-se misteriosamente reduzido a nove.

À medida que os assassinatos se sucedem, os hóspedes começam, em vão, a tentar ludibriar o assassino, que, contrariamente ao que inicialmente pensavam, se encontra entre eles. Mr. e Mrs. Rogers, Vera Claythorne, o Dr. Armstrong, Lombard, Blore, o general MacArthur e Emily Brent cairão um a um, da forma mais incontrolável e imprevisível, no esquema sanguinário do enigmático U. N. Owen.

« He paused: 

"You'll be cold, perhaps, in that thin dress?"

Vera said with a raucous laugh:

"Cold? I should be colder if I were dead!" »

Agatha Christie afirmava que And Then There Were None tinha sido o seu livro mais difícil de construir. Isso é compreensível, já que se distancia dos universos de Poirot e de Miss Marple na medida em que não existe uma personagem externa astuta para juntar as peças da intriga e resolver o mistério. Isto agradou-me sobremaneira, já que costuma incomodar-me a facilidade sabichona com que é costume Poirot chegar-se à frente, no fim dos romances, para explicar detalhadamente todo o sucedido, como se tudo fosse óbvio. Pelo contrário, as figuras da autoridade a que é atribuído o caso destes assassinatos em série interpretam mal os sinais deixados pelos cadáveres na ilha. Assim, por ser um enigma que se desenrola de dentro para fora, compreende-se que tenha sido um romance de elaboração desafiante, mas também que a sua leitura seja extremamente aliciante.

O leitor fica preso neste loop de assassinatos, tentando, em conjunto com as personagens, prever quem vai ser o próximo a morrer e de que forma. O facto de, sabendo isso ou não, dificilmente se poder evitar o encadeamento de assassinatos, aliado à reclusão das personagens numa pequena ilha deserta, confere ao enredo uma forte sensação de claustrofobia e inevitabilidade.

Apenas aponto dois aspetos negativos nesta narrativa: o elevado número de personagens, presas no mesmo sítio e com muitas interações, mas apresentadas todas de seguida logo no início, leva a que seja fácil confundi-las entre si; e a atitude final de Lombard não me pareceu adequada ao desfecho da obra. Fora isso, recomendo este clássico moderno – um mistério intrincado e cativante, como aqueles a que Agatha Christie habituou o seu público.

11
Jun22

“O Grande Gatsby” – F. Scott Fitzgerald

Helena

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Este clássico da literatura americana tem por narrador Nick Carraway, a quem a promessa da prosperidade de Wall Street levou a que se mudasse para Nova Iorque, para trabalhar como corretor da bolsa.

Na vizinhança da sua pequena vivenda em West Egg, existe uma residência palaciana, cuja ostentação atrai pessoas da alta sociedade para as mais extravagantes festas. O seu dono, Jay Gatsby, é um homem charmoso que poucos conhecem. Mesmo aqueles que sabem quem ele é desconhecem as suas verdadeiras origens e o caminho que percorreu para construir a riqueza abismal que ostenta nas noites de folia.

Era costume que a casa de Gatsby fosse frequentada por celebridades que não eram convidadas: as pessoas apareciam e usufruíam das maravilhas que a mansão tinha para oferecer. No entanto, certo dia, Nick recebe um convite para uma das festas do galã, e fica fascinado pela sua figura jovial e afável. Com o passar do tempo, acabam por estabelecer uma relação de amizade, ainda que povoada pelo fantasma do passado incógnito de Gatsby. Nick apercebe-se de que as extravagâncias dos festins do milionário não passam de uma fachada de ostentação que esconde uma alma apaixonada que vive em função de um único sonho: recuperar o amor de Daisy, uma jovem que vive numa casa diametralmente oposta à dele, do outro lado do lago de Long Island. Para isso, conta com a ajuda de Nick e com a crença firme de que o passado é um sítio ao qual é sempre possível regressar.

Não consegui perceber o porquê de este ser considerado um dos maiores ícones da literatura americana do século passado. Dados os profusos elogios feitos por leitores ingleses à escrita de Fitzgerald, atribuo à tradução desta edição da Clássica Editora o motivo da minha desilusão.

Apesar de ter apreciado a história enquanto lia, assim que pousava o livro não conseguia lembrar-me do que tinha acontecido, como se não passasse de uma narração superficial de factos mais ou menos irrelevantes. A versão cinematográfica de O Grande Gatsby, por seu lado, pareceu-me muito mais expressiva e marcante na representação do desenrolar da ação. Nesse sentido, recomendo vivamente que se complemente a leitura do livro com a visualização do filme.

Assim, apesar de reconhecer que este livro encerra um retrato rico da sociedade novaiorquina dos Loucos Anos 20, com a euforia coletiva, o ricochete da lei seca e o enriquecimento por meios obscuros, não se traduziu numa experiência de leitura particularmente marcante.

09
Abr22

“The Catcher in the Rye” – J. F. Salinger

Helena

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Holden Caulfield é um adolescente irreverente que acaba de ser expulso de mais um colégio interno. Consciente de que, se regressasse a casa, teria de lidar com a reprovação dos seus pais, Holden decide deixar o colégio e vaguear pelas ruas de Nova Iorque até ao último dia do período letivo.

Durante esse tempo, Holden entretém-se marcando encontros com antigos amigos, passeando pelo Central Park ou bebendo nos bares da cidade, revoltando-se contra tudo aquilo que considerava “phony” – ou seja, contra os comportamentos incompreensíveis das pessoas adultas de uma sociedade de preceitos e hipocrisias.

Viajando através do fluxo de consciência de Holden, acompanhamo-lo à medida que ele avança por este hiato da vida em que ainda não se é um adulto, mas também já não se é uma criança. No meio das circunstâncias difíceis que obrigam Holden a agir com maturidade, encontra-se a resistência clara de uma mente adolescente que se recusa a crescer.

“Goddam money. It always ends up making you blue as hell.”

The Catcher in the Rye é um livro controverso, que já foi banido de vários países pela sua linguagem inapropriada e pelo relato de cenas sexuais ou violentas. Junto do público, ora despoleta amor, ora ódio. Eu tendo a incluir-me no primeiro grupo de leitores.

Holden não é um rapaz como os outros, mas também não quer sê-lo. Todo este livro é um grito de revolta de um rapaz inconformado com as regras da sociedade, que dá consigo às portas de uma vida adulta para onde não quer entrar. Assim, a narração pode ser considerada bastante monótona: Holden encarna o adolescente resmungão que se aborrece com tudo aquilo que o rodeia, que não gosta de nada nem de ninguém, à exceção da sua irmã mais nova. No entanto, é na reiteração da sua posição em relação à vida que se revela a profundidade do medo que Holden tem daquilo que o espera quando não puder fugir mais do jugo das regras sociais.

É também desse medo que deriva a afeição de Holden pela irmã, uma criança muito inteligente que o compreende e o recorda de que nem tudo no mundo é horrível: ainda existem crianças, seres puros, sem segundas intenções e sem preocupações em relação a si mesmas e aos outros. Por essa razão, quando a irmã lhe pergunta o que gostaria de fazer quando crescesse, ele responde que gostaria de ser o “catcher in the rye” – um vigilante num campo de centeio que evitaria que as crianças que lá brincavam se aleijassem ou se perdessem. No fundo, Holden só quer poder escapar à prisão do mundo dos crescidos.

Deduzo que o prazer que tive ao ler este livro se deva em grande parte à fase da vida em que me encontro, uma fase de mudança, de amadurecimento e de receios quanto ao que está para vir. No entanto, penso que mesmo os leitores que já passaram pela adolescência podem encontrar conforto no inconformismo de Holden.

Em conclusão, The Catcher in the Rye foi um livro que me surpreendeu, uma vez que não esperava que o cânone dos clássicos pudesse incluir um romance tão informal. No final de contas, aquilo que se retira da experiência de Holden é a consciência da criança que vive em cada um de nós e que, por mais que tentemos domar, não se curva às regras e expectativas que a sociedade teima em impor-nos. Somos todos um bocadinho “Holden”. Porque é que temos de crescer?

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