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H-orizontes

H-orizontes

04
Dez22

“The Bell Jar” – Sylvia Plath

Helena

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Esta narrativa acompanha a espiral descendente da saúde mental de Esther Greenwood, uma aluna excecional que passa um mês em Nova Iorque, a trabalhar numa revista de moda como prémio de uma bolsa. Em Nova Iorque, Esther é confrontada com um mundo complexo de convenções sociais, eventos superficiais e várias maneiras de encarar a feminilidade e a sexualidade. Quando regressa a casa, com a cabeça repleta de hipóteses relativamente a um futuro que parece cada vez mais difícil de escolher, Esther fica a saber que não foi aceite no programa de escrita que, enquanto aspirante a poetisa, tanto almejava frequentar. Presa nos seus próprios pensamentos e angústias, a protagonista deste romance começa a percorrer círculos mentais autodestrutivos, cujas consequências a levarão a internamentos sucessivos em várias instituições psiquiátricas.

“it wouldn’t have made one scrap of a difference to me, because wherever I sat – on the deck of a ship or at a street café in Paris or Bangkok – I would be sitting under the same glass bell jar, stewing on my own sour air.”

Comecei a ler este livro por sugestão da minha professora de Inglês e devorei-o numa semana. The Bell Jar, um romance em que a ficção e o registo autobiográfico se misturam, foi carimbado por Sylvia Plath com o sentimento de angústia de alguém que vive preso na sua doença mental. Assim sendo, a leitura deste livro não é recomendável aos leitores que não se encontrem num estado mental equilibrado, ou que sejam sensíveis a episódios de depressão, violência, tentativas de suicídio e linguagem racista própria do enquadramento ideológico da época.

Há quem classifique The Bell Jar como uma versão feminina de The Catcher in the Rye, mas The Bell Jar é muito mais do que a história de uma rapariga revoltada com a sociedade e com o processo tão exigente que é crescer. Esther Greenwood não só batalha contra um mundo que a obriga a afunilar o espectro de objetivos que se imagina a alcançar, mas também contra o ideal feminino dos anos 50 (“The trouble was, I hated the idea of serving men in any way.”), contra os estigmas da virgindade e da contraceção, contra os preconceitos em relação às doenças mentais e contra a persistência do seu corpo em continuar a viver.

É impossível separar o percurso de vida da personagem principal deste romance da vida da sua autora, uma mulher extremamente inteligente a quem nem os internamentos nem os tratamentos de eletrochoques conseguiram manter a salvo do suicídio, um mês após a publicação de The Bell Jar. Da mesma forma, é impossível separá-lo da época em que se insere, os anos 50 do século passado, retratados através das notícias nos jornais (a execução dos Rosenberg), da comida e das relações interpessoais. Assim sendo, este livro não deve ser posto de parte por apresentar uma visão preconceituosa e discriminatória das comunidades negra e homossexual, que devem ser entendidas como fruto da cultura racista e intolerante dos Estados Unidos na década que antecedeu a luta pelos direitos civis.

Não tenho palavras para descrever o quanto este livro me cativou, impressionou e perturbou do início ao fim. Vão ter de ler e sentir por vocês!

“I took a deep breath and listened to the old brag of my heart.

I am, I am, I am.”

08
Set22

“O Primo Bazilio” – Eça de Queiroz

Helena

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O segundo volume da série queirosiana que constitui um retrato crítico da sociedade portuguesa do século XIX foi publicado pela primeira vez em Portugal em 1887, tendo sido reeditado no mesmo ano por se terem vendido todos os exemplares.

O Primo Bazilio insere-nos no seio da vida doméstica da burguesia lisboeta novecentista. Luiza, dona de casa e mulher de Jorge, vê-se sozinha na capital devido a uma viagem de negócios do seu marido ao Alentejo. A solidão de Luiza não tarda a ser preenchida pelas visitas do seu primo Bazilio, chegado do Brasil, onde fizera fortuna. Apesar da sua consciência de esposa responsável, Luiza não consegue resistir aos encantos do primo que já quando eram mais jovens a tinha conquistado, antes de partir para o Novo Mundo.

O movimento na casa de Luiza não passa despercebido à curiosidade da vizinhança, ávida de novos escândalos e boatos. Entretanto, Jorge, longe de casa, não sabe de nada do que se passa entre a sua esposa e o querido primo, e Luiza descobre os prazeres libidinosos do adultério. Atraída para um estratagema amoroso do qual não tem forças para sair, Luiza entrega-se a uma relação sigilosa que se poderia ter prolongado por muito tempo, não fosse uma carta comprometedora ter aterrado no cesto dos papéis que a criada tinha a função de despejar…

"Assim um iate que aparelhou nobremente para uma viagem romanesca vai encalhar, ao partir, nos lodaçais do rio baixo; e o mestre aventureiro que sonhava com os incensos e os almíscares das florestas aromáticas, imóvel sobre o seu tombadilho, tapa o nariz ao cheiro dos esgotos."

Eça volta a presentear-nos com a sua ironia numa representação satírica da sociedade da época constitucionalista. A crítica queirosiana atinge não só o atraso lisboeta em relação ao mundo moderno e o caráter fraco da sua população, mas também os novos-ricos levianos e interesseiros, a quem o poder e riqueza que detêm dão a sensação de poderem beneficiar da simplicidade daqueles que os rodeiam.

Esta narrativa está povoada de personagens que, interferindo ou não na ação principal, têm um papel essencial na construção do cenário social do enredo. Os vizinhos coscuvilheiros, o conselheiro ambicioso ou o médico quase rendido à corrupção do sistema não influenciam nem alteram a trajetória da narrativa, mas conferem verosimilhança ao ambiente em que se desenrola esta história de adultério.

O Primo Bazilio é mais um monumento do realismo português, sendo que, desta vez, Eça elevou a objetividade do relato a um ponto que roça o erotismo. Esta é uma narrativa de luxúria, desejo, impulsividade e consequente arrependimento, enriquecida por personagens que podiam perfeitamente ser de carne e osso, tal é a forma como o leitor acaba por se relacionar com elas e por nutrir por elas sentimentos indizivelmente intensos. Assim, trata-se de uma obra que recomendaria tanto como porta de entrada para a literatura queirosiana, como para dar sequência ao maravilhamento de um leitor que se tenha apaixonado pela obra-prima que é Os Maias.

"É que o amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer."

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