“Mar Negro” – Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Inês e J.P. trabalham no bar da praia durante um verão que se aproxima do fim. Os clientes vão e vêm, e os gelados Mar Negro encomendados em grande quantidade saem a voar. A relação entre Inês e J.P. é a de duas pessoas que, apesar de muito diferentes, são reunidas pelas circunstâncias e acabam por desfrutar da companhia um do outro.
Tudo parecia encaminhar-se para um final de estação tranquilo, quando, certo dia, uma rapariga morre afogada no mar. Tratando-se de uma cliente habitual do bar da praia, Inês não pode deixar de se sentir incomodada pelo sucedido, nem resiste a guardar para si a mala que a rapariga, também chamada Inês, deixara no bar por esquecimento.
Numa fase de transição entre as estações do ano e da vida, Inês percorre um caminho de novas descobertas, sensações e experiências que contribuirão para a consciência de si própria e dos outros.
Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho voltam a enveredar pelo mundo das bandas desenhadas pouco convencionais, com uma narrativa completamente ilustrada a duas cores e disposta em vinhetas de formas invulgares.
Tendo lido a banda desenhada publicada previamente pelos mesmos autores (Desvio), posso afirmar que gostei mais da anterior, já que a originalidade da narrativa me cativou mais. Por outro lado, entendo que a representação literária do quotidiano mais vulgar possa ser percecionada como um olhar claro sobre a vida de todos os dias e um testemunho de um período com características específicas. Assim, nestas páginas azuis e brancas, eternizou-se um fragmento da existência, a realidade de um trabalho de verão no bar da praia, das primeiras paixões e dos dilemas que o crescimento não deixa de trazer.
Assim, Mar Negro é uma boa leitura para uma tarde quente e descontraída de verão, tanto para jovens adultos (leitores cujos pensamentos, comportamentos e modos de expressão Ana Pessoa continua a captar maravilhosamente) como para adultos com vontade de regressar a uma juventude à beira-mar.