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H-orizontes

H-orizontes

07
Set21

A valorização das artes, enquanto dimensão fundamental de uma formação de base humanista

Helena

Quando pensamos no futuro da Humanidade, a nossa mente é imediatamente invadida pelas conquistas promissoras das ciências e da tecnologia: o desenvolvimento da inteligência artificial, a iminência da vida em Marte, a popularização dos carros elétricos. E a cultura? Na minha opinião, a valorização das artes está intimamente ligada ao progresso da Humanidade.

A expressão artística, desde a pintura à literatura, tem um impacto a longo prazo na formação humanista das gerações. A sua influência presente baseia-se na sua função crítica, através da chamada de atenção para os problemas atuais e para a consequente necessidade de alteração dos valores vigentes. Em "Os Maias", o autor expõe a sociedade lisboeta retrógrada, inculta e fundada em estruturas corruptas da Regeneração, pretendendo abalar os seus alicerces. Quanto ao impacto futuro, a arte é essencial para fomentar o espírito crítivo das gerações vindouras e evitar a repetição dos erros do passado. É nesse sentido que assistimos à proliferação de livros e filmes que abarcam temas como o racismo, a escravatura e o Holocausto.

Em segundo lugar, a valorização das tendências vanguardistas é fundamental para o progresso criativo e a alteração de mentalidades. O estímulo das vanguardas, pela sua ousadia na rutura dos cânones estabelecidos, equivaleria ao fomento da ambição e das capacidades de inovação das gerações no presente. É a sucessão de correntes artísticas, como o Romantismo, o Realismo e o Modernismo, juntamente com os princípios que as definem, que sustenta a metamorfose da matriz subjacente à sociedade ao longo dos séculos.

A valorização das artes surge, assim, como uma dimensão fundamental de uma formação de base humanista, uma vez que possibilita a interpretação crítica do passado e impulsiona o progresso futuro. Assim sendo, considero urgente a edificação da consciência artística na sociedade, a vinda do "Quinto Império" profetizado por Fernando Pessoa, um império espiritual fundado na cultura e no conhecimento. Nas palavras do poeta, "É a Hora!".

exame.JPG

(Exame de Português, 12º ano, 2021, 1ª fase)

18
Jul21

“O ano da morte de Ricardo Reis” – José Saramago

Helena

mês de dezembro do ano de 1935 está a chegar ao fim, quando o Highland Brigade chega ao porto de Lisboa. Entre os viajantes do navio encontra-se Ricardo Reis, heterónimo pessoano regressado do Brasil por ocasião da morte de Fernando Pessoa.

Na capital, Ricardo Reis instala-se no Hotel Bragança, onde conhece Lídia, a criada, em tudo oposta à musa do poeta, sua homónima. Junto de Lídia, Reis reencontra o fervor de uma relação de amor físico, ocasional e desigual – a simplicidade humilde da criada contrasta fortemente com o estatuto elevado e o discurso do heterónimo. A este amor carnal opõe-se o amor platónico que Ricardo Reis vai nutrir por Marcenda Sampaio, uma rapariga de Coimbra que visita Lisboa todos os meses em busca de cura para a sua mão paralisada.

Mais do que uma história que faz de uma personagem pré-existente o seu protagonista, reinventando-a, O ano da morte de Ricardo Reis é um romance de crítica aos mais variados aspetos do período em que a ação se desenrola. O avanço do fascismo na Europa, a iminência da guerra civil espanhola, a miséria do país no tempo da ditadura, a cegueira do fanatismo religioso e a hipocrisia e dissimulação do regime salazarista são pontos-chave das suas reflexões e dos comentários que pontuam as suas conversas com o fantasma de Fernando Pessoa.

“o homem, claro está, é o labirinto de si mesmo”

Este não foi o primeiro livro de Saramago que li – e ainda bem.

Em primeiro lugar, O ano da morte de Ricardo Reis é, em comparação com o Memorial do Convento, muito mais complexo, não em termos de linhas narrativas, mas em termos de conteúdo. Este livro apresenta, paralelamente a uma linha de ação simples, reflexões de um teor e profundidade que podem ser pouco acessíveis às pessoas que não possuem uma bagagem intelectual considerável. Esses momentos da narrativa correspondem, geralmente, aos encontros de Ricardo Reis com o fantasma de Fernando Pessoa, durante os quais eles se dedicam a discutir os assuntos da atualidade e a debater problemas existenciais. Embora a maior parte das reflexões seja muito interessante, desenrolam-se, por vezes, raciocínios difíceis de compreender, para além de serem pontuados pelos aforismos saramaguianos que me deixam sempre com a sensação de que não entendi o seu sentido por completo.

O ano da morte de Ricardo Reis exige, como seria de esperar, um conhecimento relativamente aprofundado acerca do heterónimo, da sua poesia e da sua filosofia de vida. Caso contrário, a verdadeira magia deste romance passar-nos-á ao lado. Certos comportamentos de Reis, a sua relação com Pessoa e os outros heterónimos e as suas reflexões são baseados nos princípios pelos quais Ricardo Reis se rege – a renúncia ao compromisso e à perturbação, a consciência aguda da mortalidade e a convicção de que “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo”.

“Não digamos, Amanhã farei, porque o mais certo é estarmos cansados amanhã, digamos antes, Depois de amanhã, sempre teremos um dia de intervalo para mudar de opinião e projeto, porém ainda mais prudente seria dizer, Um dia decidirei quando será o dia de dizer depois de amanhã, e talvez nem seja preciso, se a morte definidora vier antes desobrigar-me do compromisso, que essa, sim, é a pior coisa do mundo, o compromisso, liberdade que a nós próprios negámos.”

Outro motivo que me leva a preferir o Memorial do Convento ao O ano da morte de Ricardo Reis é o período histórico em que a ação se desenrola. No Memorial, a ação remonta ao século XVIII, ao período de construção do convento de Mafra. Já O ano da morte de Ricardo Reis insere-se no período do regime salazarista e do avanço dos fascismos em território europeu. Apesar de considerar muito relevante esta altura da História e de ter desfrutado da forte crítica do autor à conjuntura portuguesa da época, principalmente através da ironia, este não me atrai tanto como os períodos históricos anteriores – no final de contas, nunca fui grande fã da História do pós-século XIX.

Apesar de tudo, a genialidade de Saramago volta a transparecer, inegável, através das páginas do romance. O seu estilo particular acrescenta riqueza a uma obra já de si engrandecida pela incrível capacidade criativa do autor Nobel da Literatura.

Em conclusão, penso que este é um livro de leitura obrigatória para os fãs de Saramago, constituindo em simultâneo um exemplar do seu poder inventivo e um compêndio da essência da portugalidade.

26
Mai21

A importância do sonho

Helena

“Eles não sabem que o sonho / É uma constante da vida / Tão concreta e definida / Como outra coisa qualquer”. A capacidade de sonhar é uma característica própria do ser humano. São os sonhos que impulsionam a vida e que alimentam o constante dinamismo da Humanidade, permitindo-lhe progredir.

“Nada melhor do que um sonho para criar o futuro”. Como afirmava Victor Hugo, os sonhos são o melhor “motor” para a perseguição dos objetivos de cada um. Sem sonhos, os Homens viveriam sem um propósito, como barcos à deriva no mar da vida. Sem o sonho de se tornar um futebolista profissional, Cristiano Ronaldo não teria tido ânimo suficiente para superar todas as provações com que se deparou, e não seria, hoje, o melhor jogador do mundo.

“Que sempre que o homem sonha / O mundo pula e avança”. Que seria da Humanidade sem os sonhos? Que seria da Humanidade, se um grupo de marinheiros não se tivesse lançado ao mar desconhecido, movidos pelo sonho de dar “novos mundos ao mundo”? Que seria da Humanidade, se não tivesse havido quem sonhasse levar o Homem à Lua? “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. O progresso coletivo assenta nos sonhos dos indivíduos, na vontade de quem ousa ir mais além. A evolução não acontece sem uma rutura da ordem estabelecida, e nada melhor para instigar uma rutura do que a força de um sonho.

Em conclusão, o sonho é a base da existência humana, imprescindível a uma vida com sentido e ao progresso da civilização. Nas palavras de Saramago, “são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita”.

28
Nov20

The importance of preserving local languages

Helena

Preserving local languages is extremely important. Now more than ever before, the languages which are spoken by smaller groups of people are in great danger of becoming extinct. In fact, from the 7000 languages which are spoken worldwide, 2500 are endangered. It is estimated that a language dies every fourteen minutes and that, by the end of this century, ninety per cent of world’s languages will be extinct. This is definitively an issue we should all care about, once the cultural loss which is associated to the death of a language is huge. Languages define people and their way of living. Therefore, taking them from their speakers is equivalent to removing the heart from a body.

Why is this massive phenomenon happening? It is due to some peoples’ disappearance, because of wars, genocides or natural disasters, to the discrimination that affects native speakers and makes them forbid their children to speak their mother tongue, and to the lack of written documents, which makes its preservation even harder, for example.

Globalization seems to be accelerating this process’ pace. Nonetheless, there is still something we can do to avoid language death. We can try to bring a language back to life (which happened with Cornish, a former extinct language from Britain) and develop new technologies that allow real time translation, so people from different countries can understand each other without being obliged to put their native language aside.

It is essential that people stop discriminating others for their mother tongue, that children become aware of the importance of language diversity from an early age and that minority languages start being perpetuated through written documents and a new generation of speakers.

25
Ago20

"Memorial do Convento" - José Saramago

Helena

memorial.jpg

O “Memorial do Convento” tem como principais linhas narrativas aquelas que são apresentadas na contracapa do livro: “Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez.”.

Assim, este romance histórico começa por retratar o problema com que a família real portuguesa se deparava no dealbar do século XVIII: as dificuldades na conceção de um herdeiro para a coroa. A preocupação do rei leva-o a aceder à sugestão de um frade franciscano e a prometer a edificação de um convento caso Deus o abençoasse com descendência. Como, depois disso, a rainha consegue engravidar, iniciam-se os preparativos para a construção de um convento em Mafra. Nesta construção virão a trabalhar milhares de homens, entre os quais Baltasar Sete-Sóis, um antigo soldado que tinha perdido a mão esquerda na guerra. Contudo, antes do seu regresso a Mafra, a sua terra natal, Baltasar passa algum tempo em Lisboa, onde conhece o padre Bartolomeu Lourenço, também conhecido por “Voador”, pelos seus projetos de máquinas que permitiriam ao Homem voar, e Blimunda Sete-Luas, que consegue ver as pessoas por dentro.

Conjugando habilmente uma história de amor puro, um retrato da época pormenorizado, uma crítica social mordaz, uma perspetiva popular de um dos períodos mais marcantes da História portuguesa e uma passarola voadora movida a vontades, Saramago constrói um romance magnífico, que é de leitura obrigatória para os alunos do 12º ano de escolaridade.

Confesso que, antes de iniciar esta leitura, a receava. Isto devia-se à consciência de que José Saramago escrevia de uma maneira bastante peculiar, usando vírgulas no lugar de pontos finais e travessões. Contrariamente ao que receava, o registo de Saramago não dificultou a leitura, antes ajudou a torná-la especial. A colocação perfeita das vírgulas permite que as frases fluam pelas páginas, embalando o leitor na sua jornada pelo reinado de D. João V.

Esta época histórica é retratada fiel e detalhadamente pelo autor, desde a vida da família real e da corte às procissões religiosas e às condições de vida do povo. Algumas descrições, de tão ricas em pormenores, são um pouco aborrecidas, como é o caso das procissões e das deslocações da família real.

A inserção de provérbios e expressões populares no discurso proporcionam uma aproximação entre o leitor e o narrador, para além de realçar a sua perspetiva popular ou assinalar uma certa ironia. Esta está, aliás, muito presente no discurso saramaguiano, sublinhando a crítica que a ele está subjacente, que tem como alvos a Inquisição, a Igreja e os autos de fé, as convenções sociais, os protocolos da corte, as touradas e os gastos exorbitantes e irresponsáveis da Coroa.

O contraste das relações entre o rei e a rainha e entre Baltasar e Blimunda realça a diferença entre uma história de amor por conveniência e uma de amor verdadeiro, constituindo um panegírico da simplicidade dos amores genuínos.

O desfecho inesperado e comovente encerra com chave de ouro um romance simultaneamente emocionante e enriquecedor. Um ícone da literatura portuguesa.

“a diferença que há entre tijolo e homem é a diferença que se julga não haver entre quinhentos e quinhentos, quem isto não entender à primeira não merece que lho expliquem segunda.”

“são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita”

“a grande, interminável conversa das mulheres (…), nem eles imaginam que esta conversa é que segura o mundo na sua órbita, não fosse falarem as mulheres umas com as outras, já os homens teriam perdido o sentido da casa e do planeta”

“e circulavam burros à nora, de olhos tapados para terem a ilusão de caminhar a direito, não sabendo, como não sabiam os donos, que andando realmente a direito também acabariam por vir parar ao mesmo lugar, porque o mundo é ele uma nora e são os homens que, andando em cima dele, o puxam e fazem andar.”

"Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas."

"(...) todo o homem sabe o que tem, mas não sabe o que isso vale."

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