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H-orizontes

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09
Nov22

“Que Importa a Fúria do Mar” – Ana Margarida de Carvalho

Helena

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Que Importa a Fúria do Mar, publicado pela primeira vez em 2013, foi obra finalista do Prémio LeYa em 2012 e venceu, por unanimidade, o Grande Prémio de Romance e Novela APE-DGLAB de 2013.

Eugénia, jornalista ambiciosa permanentemente remetida para os programas a que ninguém presta atenção, depara-se com mais um trabalho que não a fascina nem atrai: entrevistar um idoso sobrevivente do campo de concentração do Tarrafal. “Veio parar a túmulo bafiento. A um viveiro de ácaros, camadas geológicas de ácaros, moscas e cogumelos das infiltrações.” Aquilo que Eugénia não espera é que Joaquim da Cruz, um homem apanhado no lugar errado à hora errada, na revolta comunista da Marinha Grande de janeiro de 1934, desperte nela um fascínio que a fará regressar, uma e outra vez, à casa de Joaquim e às suas palavras esparsas e vagarosas.

Assim, de entre a repressão de um regime ditatorial, a jornalista vê surgir uma história de amor entre um homem condenado e uma mulher que lhe prometeu uma espera eterna. “O Tarrafal? Mas isso é uma história de amor…”

“Querida irmã, há tantas coisas bonitas que ainda não há.”

Neste romance, Ana Margarida de Carvalho dá voz às vítimas do regime salazarista que a repressão política e intelectual enviou para os horrores do campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. No entanto, Que Importa a Fúria do Mar ultrapassa os tormentos dos injustamente condenados à violência e à exploração, abrangendo também as consequências das infâncias atribuladas, o poder das paixões e o impacto que pequenos acasos podem ter numa vida inteira.

As páginas deste romance transbordam de referências intertextuais, como a Fernando Pessoa, aos seus heterónimos e a Bob Dylan. Num fluxo de consciência entretecido com a narrativa, formas de expressão populares e eruditas formam uma teia rica de linguagem e estilo que fazem deste livro uma viagem pelas heranças cultural e literária portuguesas.

Esta narrativa contraria o sentido comum do mar para os artistas e os poetas: um meio de evasão e libertação, cheio de oportunidades e de vida. Que Importa a Fúria do Mar apresenta o mar como algo que reprime e aprisiona os homens. Uma sensação de claustrofobia atravessa a obra através do paralelo entre o mar que impossibilita a fuga dos prisioneiros no Tarrafal e o mar que atemoriza a infância da narradora, encerrada no quarto das traseiras da casa dos tios, onde a mãe a deixara antes de prosseguir a sua vida.

Que Importa a Fúria do Mar é um livro para ler e reler, um exemplo de como a literatura é o resultado da conjugação de influências antigas e técnicas narrativas novas, desafiando os leitores a voltar ao passado, ainda que com os pés bem assentes no presente.

“A mim, o não-sentido da poesia basta-me.”

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