“V for Vendetta” – Alan Moore e David Lloyd
Na Grã-Bretanha, num futuro distópico que sucede a uma guerra nuclear arrasadora, o fascismo domina as estruturas governativas e as vidas dos cidadãos são permanentemente vigiadas e controladas pelo sistema. Organismos como o Dedo, a Orelha e o Olho garantem que a população é doutrinada na ideologia do regime e que todos cumprem as regras rígidas que lhes são impostas.
Contudo, as condições de vida da população não melhoraram substancialmente com a instauração do novo regime, o que leva pessoas como Evey a tentar ganhar algum dinheiro através da exploração do seu próprio corpo. No entanto, a prostituição não é permitida nesta nova Grã-Bretanha, e Evey teria sido levada pelos vigilantes do governo, não tivesse aparecido V, o protagonista desta história. Esta personagem misteriosa, que se esconde atrás de uma máscara inspirada no ícone da História britânica Guy Fawkes, tem como objetivo a erradicação da presente estrutura governativa e a instauração de uma anarquia, em que a ordem seria natural e voluntária.
A sede de vingança de V atravessa as vinhetas desta banda desenhada, que já é considerada um clássico moderno e uma distopia de leitura essencial.
"Remember, remember the fifth of November of gunpowder treason and plot. I know of no reason why the gunpowder treason should ever be forgot."
Comecei a ler esta banda desenhada sem saber bem aquilo que me esperava. A primeira metade da história cativou-me imenso, já que não sabia da existência de mais distopias que, como 1984, Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451, criassem um universo dominado pelo fascismo que pudesse constituir a imagem de um futuro próximo tão verosímil. Assim, foi com entusiasmo que fui descobrindo as regras desta sociedade futura, as estruturas que a suportavam e os planos da oposição oculta.
No entanto, a segunda metade da história não correspondeu às minhas expectativas. O enredo tornou-se bastante previsível, já que o método de V para proceder à revolução consistia em matar os membros do governo, um por um. Seria interessante se se tivesse optado por uma explicação mais detalhada acerca do passado de V ou de Evey, o que diversificaria o desenrolar algo monótono da ação. Para além disso, quando a história se encaminha para o final, várias personagens de membros da estrutura governativa intervêm simultaneamente. Tendo em conta que todos são homens brancos muito semelhantes, só com alguma atenção no início da narrativa é possível ter em mente quem é a pessoa que fala e que função é que desempenha no funcionamento do aparelho do estado.
Em suma, esta foi uma boa leitura enquanto incursão num género que não costumo ler, mas que ficou aquém daquilo que, a meu ver, poderia ter sido.