“Europe & The Architect” – David Greig
Nesta publicação da Methuen Drama, compilam-se duas peças de David Greig, Europe e The Architect, representadas pela primeira vez no Traverse Theatre, em Edimburgo, em 1994 e em 1996, respetivamente.
Em Europe, uma pequena povoação na fronteira de um país europeu não nomeado recebe a terrível notícia do encerramento da estação de caminhos de ferro, na qual já quase não paravam comboios. Ao mesmo tempo que se debatem com as consequências que isto implica, os habitantes desta pequena cidade veem-se a braços com o expediente das recentes vagas de refugiados: pai e filha fazem da estação o seu abrigo e encontram nos seus responsáveis algum apoio. No entanto, nem toda a povoação partilha deste sentimento de solidariedade. Numa peça simples e curta, David Greig concretiza uma representação da realidade europeia do presente – um continente unido de grande cidade em grande cidade, cuja resposta humanitária ao problema dos refugiados continua a deixar muito a desejar.
The Architect traz para a ribalta os dramas de cada um dos elementos de uma família numa cidade do presente. Leo, um arquiteto, debate-se com uma proposta de demolição de um dos edifícios que projetou, que, entretanto, se tornara um antro de pobreza sem condições para alojar aqueles que precisavam. Paulina, a sua esposa, sente que o seu casamento já não faz sentido e que já nada no seu marido a fascina. Dorothy, a filha, trabalha com o pai, mas tem a necessidade de quebrar a monotonia da sua vida partindo à boleia de desconhecidos sem um destino definido, sem avisar ninguém. Martin exaspera o pai por se recusar a dedicar-se a um trabalho e pensa que fugir é a única forma de escapar à dinâmica familiar que o asfixia.
“You can’t build a thing high enough that if you fell off you wouldn’t hit the ground.”
Apesar de terem sido escritas na década de 90 do século passado, estas peças veiculam uma mensagem que ainda se adequa perfeitamente ao presente. Com novas vagas de refugiados a procurar asilo na Europa, a urbanização e terciarização crescente da sociedade e o agravamento da precariedade da habitação, os problemas destas personagens refletem comportamentos e preocupações dos europeus, trinta anos depois.
Apesar de não costumar gostar de ler textos dramáticos, o Europe conquistou-me pela forma como aborda tantos temas fraturantes sem parecer forçado. As personagens são verosímeis e as suas atitudes são plausíveis e adequadas ao espaço onde vivem. Já The Architect não me agradou tanto, não só pelo modo de encadeamento das cenas como pela falta de naturalidade no comportamento das personagens.
Assim, foi uma boa incursão na literatura dramática britânica contemporânea, que me deixou com vontade de ver as representações destas peças ao vivo.
“I’ll talk to you all night. That’s better than love.”