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H-orizontes

H-orizontes

29
Abr22

“Ilíada” – Homero

Helena

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Troia, Época Homérica. No último ano da Guerra de Troia, que opôs gregos e troianos, Agamémnon, comandante das tropas gregas, toma uma decisão que afetará profundamente o rumo dos acontecimentos. Depois de se ter visto obrigado a entregar a cativa Criseida ao pai dela, sacerdote de Apolo, Agamémnon exige a Aquiles que lhe ceda a escrava Briseida, que lhe fora atribuída como prémio de guerra. Ultrajado por esta desonra, Aquiles volta as costas ao exército grego e recusa-se a continuar a lutar em seu favor. Para além disso, este semideus recorre à sua mãe, Tétis, pedindo-lhe que interceda junto de Zeus e o convença a fazer com que os gregos paguem pela ofensa que Agamémnon lhe infligiu.

A partir daí, a situação vantajosa em que os gregos se encontravam em relação aos seus inimigos começa a deteriorar-se. Na ausência do seu guerreiro mais ágil e valente, os gregos batalham ardentemente pelo fim de uma guerra que já custara demasiado a todos os envolvidos. Até os deuses tomam fações e se defrontam pela vitória numa luta pela posse da mulher mais bela da Grécia.

Eu não acredito que acabei de ler o primeiro livro da História Ocidental.

Como a minha professora de Cultura Clássica me ensinou, este é um livro sobre a raiva de Aquiles. A história começa com o despoletar da sua fúria, desenvolve-se durante o período da sua ausência, motivada pelo rancor, e termina com a explosão da sua raiva. Para além da cólera de Aquiles, contudo, muitas outras cóleras desabrocham a cada passo que se percorre na Ilíada: a cólera de Heitor para com Páris, pela debilidade do seu caráter; a cólera de Agamémnon para com Aquiles, por ter posto em risco a vida dos gregos por causas menores; a cólera de todos contra a guerra, que se prolongava por demasiado tempo e causava demasiados danos. Assim, podemos dizer que Ilíada é uma história movida pela força da raiva.

Esta também é uma história sobre o destino e sobre a glória. Na Grécia Antiga, a glória era um valor essencial para a vida. O principal objetivo de um homem era ser recordado para a eternidade pelos seus feitos, e a melhor forma de o fazer era através do seu desempenho na guerra. Assim, apesar de estarem fadados a uma morte dolorosa, os heróis homéricos valorizam a bravura e chegam, como no caso de Aquiles, a recusar a possibilidade de uma vida longa em troca da perpetuação do seu nome.

Aquilo que mais me surpreendeu na Ilíada foi a violência com que são descritas as mortes no campo de batalha. Desde miolos borrifados e pescoços trespassados até olhos a saltar e pulmões a ser arrancados por lanças, a Ilíada é um autêntico catálogo de atrocidades da guerra.

Não teria desfrutado tanto nem compreendido tão facilmente esta obra épica se não fosse pela tradução impecável de Frederico Lourenço, cujo domínio simultâneo da forma e do conteúdo é notório na forma como consegue traduzir um documento milenar para o público dos nossos dias.

Em conclusão, apesar das suas longas enumerações de guerreiros, confrontos e patronímicos, a Ilíada é um ícone da história literária que, para além de ser enriquecedor e fascinante, chegou a proporcionar-me momentos de diversão e uma autêntica viagem no tempo.

09
Abr22

“The Catcher in the Rye” – J. F. Salinger

Helena

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Holden Caulfield é um adolescente irreverente que acaba de ser expulso de mais um colégio interno. Consciente de que, se regressasse a casa, teria de lidar com a reprovação dos seus pais, Holden decide deixar o colégio e vaguear pelas ruas de Nova Iorque até ao último dia do período letivo.

Durante esse tempo, Holden entretém-se marcando encontros com antigos amigos, passeando pelo Central Park ou bebendo nos bares da cidade, revoltando-se contra tudo aquilo que considerava “phony” – ou seja, contra os comportamentos incompreensíveis das pessoas adultas de uma sociedade de preceitos e hipocrisias.

Viajando através do fluxo de consciência de Holden, acompanhamo-lo à medida que ele avança por este hiato da vida em que ainda não se é um adulto, mas também já não se é uma criança. No meio das circunstâncias difíceis que obrigam Holden a agir com maturidade, encontra-se a resistência clara de uma mente adolescente que se recusa a crescer.

“Goddam money. It always ends up making you blue as hell.”

The Catcher in the Rye é um livro controverso, que já foi banido de vários países pela sua linguagem inapropriada e pelo relato de cenas sexuais ou violentas. Junto do público, ora despoleta amor, ora ódio. Eu tendo a incluir-me no primeiro grupo de leitores.

Holden não é um rapaz como os outros, mas também não quer sê-lo. Todo este livro é um grito de revolta de um rapaz inconformado com as regras da sociedade, que dá consigo às portas de uma vida adulta para onde não quer entrar. Assim, a narração pode ser considerada bastante monótona: Holden encarna o adolescente resmungão que se aborrece com tudo aquilo que o rodeia, que não gosta de nada nem de ninguém, à exceção da sua irmã mais nova. No entanto, é na reiteração da sua posição em relação à vida que se revela a profundidade do medo que Holden tem daquilo que o espera quando não puder fugir mais do jugo das regras sociais.

É também desse medo que deriva a afeição de Holden pela irmã, uma criança muito inteligente que o compreende e o recorda de que nem tudo no mundo é horrível: ainda existem crianças, seres puros, sem segundas intenções e sem preocupações em relação a si mesmas e aos outros. Por essa razão, quando a irmã lhe pergunta o que gostaria de fazer quando crescesse, ele responde que gostaria de ser o “catcher in the rye” – um vigilante num campo de centeio que evitaria que as crianças que lá brincavam se aleijassem ou se perdessem. No fundo, Holden só quer poder escapar à prisão do mundo dos crescidos.

Deduzo que o prazer que tive ao ler este livro se deva em grande parte à fase da vida em que me encontro, uma fase de mudança, de amadurecimento e de receios quanto ao que está para vir. No entanto, penso que mesmo os leitores que já passaram pela adolescência podem encontrar conforto no inconformismo de Holden.

Em conclusão, The Catcher in the Rye foi um livro que me surpreendeu, uma vez que não esperava que o cânone dos clássicos pudesse incluir um romance tão informal. No final de contas, aquilo que se retira da experiência de Holden é a consciência da criança que vive em cada um de nós e que, por mais que tentemos domar, não se curva às regras e expectativas que a sociedade teima em impor-nos. Somos todos um bocadinho “Holden”. Porque é que temos de crescer?

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