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H-orizontes

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17
Out21

"Montanhas Douradas" - C Pam Zhang

Helena

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A corrida ao ouro domina o Oeste dos Estados Unidos da América quando Lucy e Sam, irmãs separadas por um ano e duas maneiras de ser totalmente distintas, se veem sozinhas após a morte do seu pai. Ba, como lhe chamavam, era um prospetor cuja vida se resumia a transportar a sua família de origens orientais através do território americano à procura de filões de ouro que, invariavelmente, já tinham sido esgotados por outros. Em consequência, a família via-se obrigada a sobreviver no seio das dificuldades e da escassez de recursos, trabalhando nas minas de carvão e alimentando-se parcamente.

Lucy era a mais inteligente das irmãs e, por isso, foi a que frequentou a escola durante mais tempo. Era a mais velha e também a que conseguia fazer uma análise mais racional das situações com que se deparava. Já Sam, bela, forte e andrógina, era fruto da influência do pai e deixava-se dominar pela impulsividade e irreverência.

Após a morte de Ba, Lucy e Sam têm nas mãos o seu próprio futuro, e embarcam numa longa viagem que as levará através do espaço e do tempo, nas tórridas planícies americanas onde já não se avistam tigres.

“O que faz um fantasma ser um fantasma? Pode uma pessoa ser assombrada por si própria?”

Montanhas Douradas foi um dos livros do ano de 2020 escolhidos por Barack Obama. Ao que parece, o nosso gosto literário não é muito similar.

O primeiro aspeto que me marcou no romance de estreia de C Pam Zhang foi a crueza do seu estilo. Numa escrita austera e pouco adornada, a autora aproxima-se da aridez da paisagem que descreve e do modo de vida parco em recursos das personagens principais.

Apesar de o início não me ter cativado, o avançar da ação vai envolvendo o leitor na narrativa, através de analepses que vão revelando o passado das personagens e, em consequência disso, vão revelando o seu caráter. Assim, a personagem odiada ganha uma oportunidade de redenção, a figura admirável revela os seus matizes mais escuros e o presente narrativo é iluminado por uma nova luz.

Penso que o principal motivo que me levou a não gostar tanto deste livro como esperava foi o facto de retratar uma realidade com que nunca tinha contactado e com que, por isso, não conseguia identificar-me de forma nenhuma. No entanto, a mesma razão permitiu-me sair da minha zona de conforto e ser, por algumas horas, transportada para o coração da América em plena era da corrida ao ouro.

Montanhas Douradas é um livro sobre a família, a emigração e a xenofobia. Um livro sobre o sentido de pertença, o sentido do dever e o sentido da vida. É um livro sobre escolhas e sacrifícios. Uma viagem longa, mas compensadora.

08
Out21

“Leonardo Da Vinci” – Walter Isaacson

Helena

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Leonardo da Vinci: pintor, escultor, arquiteto, anatomista, cientista, topógrafo, engenheiro, botânico. Um génio. Nesta biografia, Walter Isaacson disseca a vida e a obra do grande mestre florentino, numa análise transversal de todas as áreas a que Da Vinci se dedicou ao longo dos seus sessenta e sete anos de vida.

O nome do jovem aprendiz da oficina de Verrocchio que colaborou com o seu mestre no último quadro que este pintou perpetuou-se através dos séculos, quer pelas suas obras de arte como pelas 7200 páginas das suas anotações e rabiscos que sobreviveram, como que por milagre, até aos nossos dias.

Da Vinci era, em muitos sentidos, um homem à frente do seu tempo. Antes da teoria do método experimental de Bacon, já Leonardo afirmava que "os [seus] assuntos [exigiam] experiência e não as palavras de outros". Muito antes de a medicina lhe seguir os passos, compôs a primeira explicação da arteriosclerose em função do tempo e aproximou-se da compreensão do funcionamento das válvulas cardíacas. O conceito de perspetiva foi desdobrado em três aspetos, o sistema de focagem do olho foi estudado a fundo e mais de 30 cadáveres foram dissecados pelas mãos do artista que era muito mais do que isso.

Alguns críticos apontam o facto de Da Vinci se ter dedicado exaustiva e prolongadamente a assuntos paralelos à produção de obras de arte como um desperdício de tempo, um tempo que poderia ter utilizado em prol de demonstrações do seu talento artístico. No entanto, foi graças aos seus estudos profundos acerca da anatomia humana, das espirais da água, das sombras causadas por diferentes tipos de luz e da forma como as emoções se refletem na disposição dos músculos que Leonardo conseguiu elevar as suas pinturas ao patamar mais elevado da arte internacional por toda a posteridade.

Apesar das capacidades aparentemente sobrenaturais do mestre, é igualmente fantástico (e reconfortante) saber que também Leonardo estava tão ancorado à condição humana como qualquer um de nós. Leonardo, o filho bastardo, iletrado, perfecionista, apaixonado, procrastinador, que interrompeu o seu último registo porque a sopa estava “a ficar fria”.

"O Homem é a imagem do Mundo"

Há muito tempo que ansiava por ler este livro. Quando pensava que o meu fascínio por este grande vulto do Renascimento não podia ser maior, a biografia de Isaacson mostrou-me que não há limites para a admiração de um génio como Da Vinci. Leonardo era a versão de carne e osso dos lenços intermináveis dos ilusionistas: uma sucessão sem fim de interesses, obsessões e projetos, cujo aperfeiçoamento prolongava indefinidamente.

Como Isaacson refere múltiplas vezes ao longo da biografia, o verdadeiro génio de Da Vinci é fundado na sua capacidade ímpar de amalgamar o real e o fantástico, a ciência e a arte, numa harmonia que eleva as suas produções a patamares quase divinos. Tomando o exemplo do mestre, facilmente concluímos que seremos tão melhores naquilo que fazemos quanto mais abrangente, transversal e profundo for o nosso conhecimento acerca daquilo que nos rodeia. Se não se tivesse dedicado tão empenhadamente ao estudo da focagem do olho, Da Vinci não teria deixado à Humanidade a imagem do sorriso mais icónico de todos os tempos: o sorriso de Mona Lisa.

A análise da vida e obra de uma figura tão influente e multifacetada como Leonardo podia facilmente enveredar por um registo denso e muito técnico que desencorajaria o leitor logo na primeira página. Pelo contrário, Isaacson explora as várias esferas da vida do génio sem se deixar levar por explicações demasiado aprofundadas ou por um estilo meramente factual e aborrecido. Com um discurso fluído pontuado por comentários apelativos para os leitores do século XXI, esta biografia pode perfeitamente ser descrita como acessível, apaixonante e enriquecedora.

"Quando estás sozinho, és o teu próprio mestre"

"O instante não tem tempo; e o tempo é feito pelo movimento do instante"

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