“The Wave” – Todd Strasser
Ben Ross, professor de História no liceu de Gordon High, é apologista dos novos métodos de ensino, que optam por experiências práticas que envolvam os alunos no processo de aprendizagem, em detrimento de aulas expositivas.
Depois de ter apresentado um vídeo sobre os campos de concentração na época da Segunda Guerra Mundial, Ross depara-se com a incredulidade dos seus alunos face à relutância do povo alemão em reconhecer o massacre que acontecia “mesmo debaixo dos seus narizes”.
“I would never let such a small minority of people rule the majority”, dizem os alunos, quando o professor lhes conta que os membros do partido nazi constituíam apenas 10% da população alemã. Mas será assim tão simples? Ross decide passar da teoria à prática e fazer uma experiência que sujeite os alunos ao fenómeno incompreensível que se espalhou na Alemanha sob o comando de Hitler. Para surpresa do professor, os alunos não só aderem rapidamente ao “The Wave” (o nome atribuído ao seu grupo experimental), mas também começam a manifestar profundas alterações no seu comportamento: motivados por se sentirem parte de um grupo em que são todos iguais, tornam-se mais eficientes, aplicados e disciplinados – e parecem gostar disso. Uma vez começada a experiência, o professor vê-se a braços com um problema, porque não sabe como há de parar a onda que começou e que, num ápice, se alastrou à escola inteira e começa a ganhar contornos verdadeiramente preocupantes.
Este livro, de registo simples e leitura rápida, com um enredo interessante e perturbador, torna-se ainda mais interessante e perturbador quando nos apercebemos de que é o retrato de uma história verídica. A experiência aqui relatada foi realizada na escola secundária de Palo Alto, na Califórnia, em 1969. Saber que um grupo de adolescentes foi tão facilmente manipulado, mesmo depois de ter sido instruído acerca de fenómenos semelhantes, deixa-nos a pensar no que teríamos feito se tivéssemos feito parte da experiência. Seria o nosso pensamento crítico suficientemente forte para resistirmos ao “The Wave”?
Para além de refletir os efeitos do poder e do fanatismo alemão, esta experiência permite que observemos a heterogeneidade dos grupos arrastados por este tipo de vagas alucinantes. Os mais fracos, desprezados, revoltados e infelizes são os primeiros a juntar-se ao movimento, e também aqueles que o defendem com mais afinco. No entanto, o entusiasmo afeta até as camadas mais inteligentes do grupo, assim como aqueles que veem na experiência uma oportunidade para elevar o seu desempenho noutros contextos. Assoberbados pelas vantagens de um regime em que a disciplina assegura a eficácia e por esta obcecados, os membros do The Wave não olham a meios para estender o seu domínio e silenciar os seus opositores, tal como se se tivesse estabelecido uma ditadura.
Os cartões de membro (com a cruz vermelha que determina quem irá supervisionar o cumprimento das regras), a saudação, o lema, a propaganda, os comícios, a censura, a intimidação e o efeito inebriante das manifestações em grupo são pontos chave desta narrativa que aproximam de forma alarmante uma escola secundária americana à Alemanha nazi.
Este livro relembra-nos que, infelizmente, a História não está confinada ao passado e que nos cabe impedi-la de se repetir. Se baixarmos a guarda, podemos ser apanhados pela “onda” sem que nos apercebamos.