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H-orizontes

H-orizontes

29
Nov20

"A Papisa Joana" – Donna Woolfolk Cross

Helena

Há doze séculos, em 814, nasceu em Ingelheim, na Saxónia do império carolíngio, uma menina que marcaria profundamente a História da Igreja Católica, apesar de, hoje em dia, quase ninguém memorar a sua existência.

Joana de Ingelheim contrariou desde cedo o protótipo feminino medieval: perspicaz, curiosa, inteligente e determinada, era vista como uma aberração pelo seu pai e pelas crianças da aldeia. Consciente de que as suas capacidades não podiam estar destinadas à vida redutora reservada às mulheres da época, Joana aprendeu a ler com o seu irmão mais velho. Mais tarde, ingressou na escola de Dorstadt, graças às influências do mestre grego Asclépios, que reconhecera nela uma inteligência promissora. Foi em Dorstadt que Joana conheceu Geraldo, o seu primeiro e único amor, apesar de ele ser um homem casado e treze anos mais velho do que ela.

Apesar do desprezo de que era alvo por parte dos seus pares e dos seus superiores, Joana destacava-se pela invulgaridade do seu intelecto e espírito crítico indomável.

Sendo a única sobrevivente do violento ataque normando a Dorstadt, Joana refugiou-se no mosteiro de Fulda, onde adotou a identidade de João Anglicus, um disfarce masculino que lhe proporcionaria oportunidades fora do alcance de qualquer mulher. Graças à sua sabedoria e ao seu altruísmo, Joana foi desbravando o caminho para a concretização da sina da vidente da feira de São Dinis: “sois o que não sereis; o que sereis não é o que sois. (…) Sereis grande, maior do que sonhais e sofrereis mais do que imaginais.”.

Através de uma escrita extremamente simples, acessível e cativante, Donna Woolfolk Cross abre-nos as portas para um dos períodos mais difusos da história, para perpetuar a memória de uma personagem que mergulhou no esquecimento: Joana de Ingelheim. O leitor é embalado ao longo das páginas e cria um laço muito forte com a personagem principal, baseado não só na amizade como também, e principalmente, na admiração.

Experienciamos um espectro muito alargado de emoções ao longo da leitura, uma vez que o enredo inclui desde episódios de amor e superação até episódios de violência e traição, numa construção muito equilibrada de momentos mais parados e momentos de adrenalina.

Este livro é uma autêntica viagem no tempo. Basta percorrer algumas linhas para sermos transportados para a plena Idade Média, com todas as personagens, ambientes, crenças e regras sociais que ela inclui. Isto resulta claramente de um trabalho exaustivo de investigação por parte da autora, que inclui na narração acontecimentos verídicos, personagens históricas, ritos antigos, cenários reais e, até, mezinhas e noções de botânica ancestrais. Enriquecendo ainda mais o processo de aprendizagem que este romance proporciona, Donna adiu um apêndice como esclarecimento em relação a este “mito” da Igreja Católica. O papado de Joana era, na verdade, socialmente aceite até ao século XVII, altura em que a Igreja se dedicou fervorosamente à erradicação de todos os seus vestígios, na luta contra o protestantismo. Apesar de dar ao leitor a liberdade de acreditar ou não na existência da papisa, a autora apresenta uma série de argumentos fascinantes que corroboram a sua veracidade.

O romance é finalizado por uma referência a uma série de mulheres que se infiltraram em instituições masculinas ao longo dos séculos, disfarçando a sua verdadeira identidade em prol do aproveitamento das suas capacidades.

Mais do que uma tentativa de preencher as lacunas de uma história centenária, este livro é um panegírico da emancipação feminina e da importância da persistência na perseguição dos sonhos de cada um, ainda que a concretização destes possa implicar a rutura dos cânones estabelecidos.

“Não podes pôr grades no meu pensamento.”

papisa-joana-1-1.png

 

28
Nov20

The importance of preserving local languages

Helena

Preserving local languages is extremely important. Now more than ever before, the languages which are spoken by smaller groups of people are in great danger of becoming extinct. In fact, from the 7000 languages which are spoken worldwide, 2500 are endangered. It is estimated that a language dies every fourteen minutes and that, by the end of this century, ninety per cent of world’s languages will be extinct. This is definitively an issue we should all care about, once the cultural loss which is associated to the death of a language is huge. Languages define people and their way of living. Therefore, taking them from their speakers is equivalent to removing the heart from a body.

Why is this massive phenomenon happening? It is due to some peoples’ disappearance, because of wars, genocides or natural disasters, to the discrimination that affects native speakers and makes them forbid their children to speak their mother tongue, and to the lack of written documents, which makes its preservation even harder, for example.

Globalization seems to be accelerating this process’ pace. Nonetheless, there is still something we can do to avoid language death. We can try to bring a language back to life (which happened with Cornish, a former extinct language from Britain) and develop new technologies that allow real time translation, so people from different countries can understand each other without being obliged to put their native language aside.

It is essential that people stop discriminating others for their mother tongue, that children become aware of the importance of language diversity from an early age and that minority languages start being perpetuated through written documents and a new generation of speakers.

08
Nov20

"Homenagem à Catalunha" - George Orwell

Helena

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Neste relato da sua experiência na guerra civil espanhola, onde combateu na frente republicana, Orwell insere-nos diretamente nas trincheiras de um conflito que opunha não só a democracia ao fascismo, como também as forças partidárias no seio da fação de esquerda.

O escritor inglês compromete-se a escrever um livro sem características propagandísticas, pelo que a obra se baseia puramente na observação dos acontecimentos.

O relato inicia-se com a sua entrada na milícia espanhola, na Catalunha, através do POUM (Partit Obrer de Unificació Marxista, uma organização comunista dissidente e anti-estalinista). O autor sublinha a fraca preparação dos soldados para a guerra, que nem sequer incluía o manejamento de armas, e a tenra idade de muitos dos voluntários, que prestavam serviços com o objetivo de angariar o seu soldo para a família.

Uma vez nas trincheiras aragonesas, Orwell depara-se com a desorganização e a falta de condições para um ataque sólido que o chocam: a trincheira inimiga estava muito distante e a falta de armamento era crítica, agravada pelo mau estado em que se encontravam as poucas armas disponíveis. Apesar do frio, das pragas de piolhos, da escassez de velas e da falta de condições sanitárias na frente onde combatia, o autor acaba por reconhecer na vida dos milicianos um “microcosmo da sociedade sem classes”.

Após o seu regresso a Barcelona, depara-se com a regressão do entusiasmo popular em relação à revolução e à reinstalação da hierarquia social. Para piorar a situação, emergiam as cisões entre os partidos republicanos: os comunistas assumiam uma posição antirrevolucionária, priorizando a vitória na guerra, enquanto os anarquistas e os comunistas dissidentes defendiam a simultaneidade da guerra e da revolução, com vista ao estabelecimento de um governo de trabalhadores. Orwell descreve os confrontos nas ruas barcelonesas, a censura da imprensa, as perseguições políticas, as prisões injustificadas e até a existência de fuzilamentos no interior da fação que é comummente assumida como una e focada unicamente no combate ao avanço do franquismo.

A leitura deste livro foi extremamente enriquecedora. Embora não seja um romance e de tratar assuntos que poderiam ser abordados de uma forma muito aborrecida, é muito interessante e, sobretudo, muito acessível para qualquer leitor que esteja minimamente informado acerca da conjuntura da guerra civil espanhola.

“Homenagem à Catalunha” dá-nos uma visão global da organização republicana e distingue com clareza os partidos que compõem esta fação, principalmente nos apêndices finais. Aconselho a leitura destes à medida que são referidos pelas notas na narração, caso contrário será difícil compreender o desenrolar dos acontecimentos. Como Orwell afirma, dificilmente seria possível compreender a guerra civil espanhola sem compreender as ideologias políticas que estão por trás dela.

A ironia marca a descrição do povo espanhol do ponto de vista de um estrangeiro muito observador e perspicaz.

Recomendo vivamente a leitura deste livro àqueles que pretendem aperfeiçoar a sua compreensão acerca deste período da História espanhola.

“Caso não o tenha dito mais atrás, neste livro, digo-o agora: tenham em conta o meu partidarismo, as minhas más interpretações dos factos e a distorção inevitavelmente resultante de ter visto apenas um lado dos acontecimentos. E tenham em conta exactamente as mesmas coisas quando lerem qualquer outro livro acerca deste período da Guerra Espanhola.”

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