"Rio do Esquecimento" - Isabel Rio Novo
Após um prólogo misterioso cujo sentido vai sendo descoberto ao longo deste romance, somos levados até ao Porto do século XIX. Mais precisamente, ao inverno de 1864, quando Miguel Augusto regressa do Rio de Janeiro para vir morrer no seu país de origem, uma vez que é vítima de uma doença mortal de cura desconhecida. Consciente de que tem o tempo contado, Miguel Augusto concentra as suas preocupações em deixar a sua marca na cidade e em casar Teresa, a filha que tinha abandonado em Portugal e cuja mãe, Camila Rosa, já tinha morrido. Graças à fortuna que fizera no Brasil, o regresso de Miguel Augusto é triunfante e luxuoso: instala-se na bela Casa das Camélias e dedica-se a recheá-la com o melhor mobiliário e a contratar criados. Como governanta, escolheu Maria Ema Sommersen Antunes, "viúva arruinada" que perdera todos os filhos. Tudo parecia bem encaminhado, o casamento de Teresa com Nicolau Sommersen, primo de Maria Ema, era favorável para ambos e Miguel Augusto afirmava a sua fortuna e poder na cidade. No entanto, o orgulho, a vontade de vingança e a força incontrolável do amor levarão a algumas reviravoltas inesperadas...
Este livro deixou-me uma impressão agridoce. Não correspondeu às minhas expectativas, não me deixou particularmente entusiasmada nem interessada, senti-me até um pouco aborrecida. Ainda assim, foi uma boa oportunidade para contactar com escrita de qualidade. É ótimo para conhecer a época em que a ação se desenrola, pois está extremamente bem retratada no romance. Dá-nos a sensação de termos viajado no tempo. A estrutura da obra é muito inteligente, com a construção circular da ação e o caráter das personagens a ser revelado à medida que se avança na leitura. A narração não é linear, avança e recua no tempo, o que exige bastante concentração da parte do leitor. Apesar de haver reviravoltas na ação, esperava que gerassem mais impacto no leitor.
Em conclusão, e dado que já me deparei com várias opiniões positivas em relação a este romance, considero-o uma obra que deve ser lida, um exemplo da boa literatura portuguesa e um livro muito enriquecedor a nível cultural. É um género diferente daquele a que estou habituada e, por certo, será objeto de uma segunda leitura. Como disse Pessoa, "Primeiro estranha-se, depois entranha-se.".